sexta-feira, 4 de abril de 2008

DIA 24 DE NOVEMBRO - CUIDADOS INTENSIVOS

O Zé escreveu:
" Levei-lhe um caldo de carne e fruta cozida triturada. Não comeu nada do caldo e da fruta 3 ou 4 colherzinhas! Quando come, fica muito agoniada, apesar de ter a sonda nasogástrica. Hoje não tinha febre. Ao fim da tarde passou para os cuidados intermédios."

Continuava a sentir-me muito abatida, muito doente e sem força anímica para reagir. Não conseguia pensar em nada. Sem mexer os lábios, apenas com o meu pensamento, eu rezava a Avé-Maria. Queria ter a mente ocupada, pois sentia-me mais tranquila. Procurava não pensar na minha filha, nos meus pais, na vida que continuava lá fora...
O Zé estava um pouco mais animado, pois disseram-lhe que hoje ao fim da tarde eu seria transferida para os cuidados intermédios.
Sentia-me mais protegida e em segurança nos cuidados intensivos, mas como já estou melhor vou para os cuidados intermédios. A assistência que me era dada nos cuidados intensivos era muito boa; o pessoal médico e de enfermagem foram de uma dedicação e de uns cuidados extremos.

DIA 23 DE NOVEMBRO - CUIDADOS INTENSIVOS

O Zé escreveu:
"Continua nos cuidados intensivos. Gostei de ver a Zu, estava um pouco mais animada. A febre tem vindo a baixar com os antibióticos próprios para combaterem a septicémia. Fez uma TAC e os resultados também são mais animadores.
A médica de ontem assustou-me com a história do dreno, que continuava a drenar demasiado, mas a médica com quem hoje falei, disse-me que não é preocupante; que o trânsito intestinal está bem e a própria drenagem tem vindo a diminuir e é provocada por um pequeno abcesso. Disse-me que é natural que amanhã passe para os cuidados intermédios."

Eu sentia-me pessimamente. Apática e sonolenta, procurava dar alguma atenção ao Zé, que mostrava uma grande ansiedade e muito nervosismo. Quando ele me perguntava como é que eu me sentia, eu sorria-lhe ... mas não podia dizer-lhe que me sentia bem, pois isso não era verdade! Queria tranquilizá-lo, dar-lhe coragem... mas eu estava tão doente!...

DIA 22 DE NOVEMBRO - CUIDADOS INTENSIVOS

o Zé escreveu:
" A Zu continua nos cuidados intensivos. A febre baixou para 37,6º, mas a dor forte nas costas mantem-se. O cirurgião continua a dizer que "tudo está bem!" . Falei com a médica de serviço nos Cuidados Intensivos que me disse que o dreno continua a deitar secreções e esta fez uma cara muito feia! Será que terá que ser operada de novo?Eu não quero pensar em tal coisa!!!"

A minha amiga Deolinda veio ver-me. Eu sentia-me muito doente, mas a presença dela deu-me algum ânimo. Fez-me massagens de Shiatsu nos pés e nas pernas; massajou-me os braços e as mãos e procurou dar-me um pouco da sua energia, pois eu estava completamente em baixo. Fazia-me festas na cara e na cabeça e a sua expressão facial demonstrava uma enorme apreensão e quase desespero, por me ver tão doente.
Trouxe-me uma oração do Arcanjo Gabriel para eu ler e repetir quando estivesse sozinha. Esteve comigo mais de uma hora. Eu sentia-me um pouco melhor. Estava alheia a tudo e a todos, mas consciente que a presença da Deolinda me estava a fazer muito bem.
Quando a Deolinda se foi embora, o Zé continuou comigo, mais algum tempo. Eu sentia-me muito cansada, muito doente e muito infeliz...

DIA 21 DE NOVEMBRO - CUIDADOS INTENSIVOS

O Zé escreveu:
"Fui visitá-la aos cuidados intensivos. Encontrei-a mais calma. Já não tinha a máscara do oxigénio.
Estive com o médico cirurgião e disse-me que a TAC feita ontem está bem. Disse-me que o trânsito intestinal fez-se bem, com o contraste que foi aplicado.
A febre que ontem passou dos 39,5º baixou consideravelmente, estava com 37,1º. O médico garantiu-me que do ponto de vista cirúrgico está tudo bem!!!???; agora é esperar que os intestinos comecem a funcionar e a respiração volte ao normal. "
A minha permanência nos cuidados intensivos não foi tão tranquila como o Zé escreve nos seus apontamentos.
Na verdade, sentia-me muito doente. Procurava alhear-me dos barulhos à minha volta, pois havia doentes em grande sofrimento, e duas pessoas morreram enquanto lá estive.
Estava muito apática. Sei que dormia e acordava o tempo todo.
Estava com uma septicémia, que me deixou de rastos. Continuava a ser alimentada com alimentação parentérica e tinha imensos aparelhos ligados a mim.
A médica dos cuidados intensivos era uma simpatia, muito meiga e muito atenta a qualquer movimento ou queixume. Vinha frequentemente junto da minha cama, perguntava-me como me sentia e afastava-se com uma expressão bastante preocupada.
Pedi ao Zé que telefonasse à minha amiga Deolinda, médica de Medicina Tradicional Chinesa, para que ela viesse ver-me e dar-me algum consolo e alento.